Filme: Coringa
Gênero: Drama / Policial
Produção: Todd Phillips
Direção: Todd Phillips
Sumário
Essa declaração que registramos acima foi dada pelo diretor Todd Phillips em uma sessão de perguntas e respostas, quando questionado sobre qual teria sido a inspiração para sua versão do personagem Coringa, no filme de mesmo nome lançado em 2019.
O polêmico personagem do longa levantou muitas discussões acerca das reações que causava nos espectadores, na época do lançamento do filme nos cinemas. Estaria o papel de vilão sendo glorificado e transformado em herói? Deveríamos ter compaixão por ele? Mas ele não é violento demais?
Um personagem cheio de camadas, muito mais verossímil do que as pessoas gostariam ou estão acostumadas a ver, coloca o público para pensar sobre questões de saúde mental, bullying, empatia, traumas, compaixão e muito mais.
Créditos: Divulgação | Fonte: Promo
Qual a história de “Coringa”?
O Coringa que você conhece é um personagem pop icônico. Ele ainda é aquele palhaço meio maluco, inimigo do Batman, que aterrorizava a cidade de Gotham City. Porém, se o que você procura é um ‘filme de herói’ padrão, não é isso que irá encontrar neste filme.
A abordagem utilizada em “Coringa” joga doses de realidade no personagem, ressignificando sua existência e sua origem, afastando-o de muito do que já foi apresentado nos quadrinhos ou em outros filmes/animações do seu universo.
O filme dirigido por Todd Phillips é basicamente sobre Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um homem solitário carregado de traumas e distúrbios psicológicos, que vai de encontro à sua libertação, mesmo que ela seja traduzida em caos e violência.
A narrativa conta que Arthur é um comediante em busca de uma carreira de sucesso, mas trabalha como palhaço em Gotham e vive num apartamento minúsculo com a mãe idosa.
Sufocado em uma cidade que fica cada vez mais violenta e por uma sociedade que ignora suas vontades e necessidades, diminuindo-o cada vez mais, Arthur resolve reagir criando um personagem chamado Coringa.
O palhaço, através da violência, se vinga das dores e mazelas que o mundo e a sociedade lhe infligiram, e da posição de suposto vilão, torna-se referência popular no embate contra o sistema opressor.
A contextualização dos motivos que levaram Arthur a se transformar em Coringa é o grande diferencial desta obra em relação às demais já feitas sobre o personagem, pois o humaniza e o torna elegível a outros sentimentos além da repulsa. E é aí que nossa discussão começa.
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E esse “novo Coringa”, funciona?
Funciona. “Coringa” é um filme que sai do lugar-comum, trabalha calcado em uma constante sensação de desconforto do público e dá ao personagem dos quadrinhos uma abordagem desconcertantemente adulta e humana.
Coringa, o personagem, não é um vilão somente ‘porque é mau’. Há toda uma motivação e explicação psicológica sobre como as coisas chegaram ao ponto de ele se tornar quem se tornou.
Coringa vira vilão porque foi atacado pela sociedade primeiro. Sua vilania é quase baseada em ‘legítima defesa’, por isso ele se torna herói protagonista de muitos, em vez de simples antagonista.
E mais: a Gotham apresentada no filme pode ser comparada a qualquer grande cidade urbana do mundo — pode ser a sua!; e Arthur pode ser aquele seu vizinho mais retraído, ou aquele seu colega de trabalho que demonstra inadequação, a quem você mesmo pode ter faltado com um olhar mais amoroso ou uma recepção mais acolhedora.
Essa possibilidade do “poderia ser real” é o que nos leva a uma posição de empatia perante o personagem, fazendo-nos compreender (o que não significa concordar com) as motivações que o levaram a tornar-se quem se tornou e a fazer tudo o que fez.
A empatia é algo crucial para nossos relacionamentos e para a vida. A capacidade de ver as coisas pela perspectiva do outro faz com que tenhamos outro tipo de relação com as pessoas e as situações, além de ser ingrediente essencial para uma boa saúde mental e emocional.
Quem sente pelo outro tem melhor consciência sobre as consequências de suas ações e decisões, o que nos coloca em uma posição de maior cautela e compaixão na hora de tomar qualquer atitude ou julgamento.
Mas devemos ser empáticos com todas as pessoas? Mesmo com quem é ruim? Devemos ser compassivos com quem aparentemente não tem compaixão? Nossa sociedade real é tão cruel quanto a do filme?
Esses questionamentos, somados ao incômodo citado anteriormente, fazem de “Coringa” uma experiência que vai além dos 122 minutos de tela.
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Sentimentos de pena, repulsa, medo e até mesmo de vingança se misturam e criam uma empatia do espectador com o personagem, que é tão humano quanto qualquer um de nós — e talvez por isso digno dessa identificação.
Mas um vilão não deveria ser apenas e tão somente ruim? Será que todos nós não somos um pouco vítimas e algozes uns dos outros? Quem é o verdadeiro vilão, afinal? Existe um?
E surge mais uma série de questionamentos, que também nos servem para desconstruir ideias pré-moldadas e entender nossa complexidade enquanto humanos.
Matéria-prima para muita discussão, “Coringa” é um filme pesado, denso, desconfortante, mas absolutamente necessário. Um exercício imenso de autoconhecimento.
Apesar de ser vendido como a história do surgimento de um supervilão, é uma história que poderia ser de qualquer um que já tenha sido negligenciado pela vida, sem encontrar a empatia e o acolhimento necessários em sua jornada.
Para não termos novos vilões, só nos resta melhorar enquanto sociedade.
Onde assistir “Coringa”?
“Coringa” está disponível nas plataformas online do TeleCine Play e Net Now. Para locação, o filme também está disponível via Google Play e Amazon Prime Vídeo.
Confira abaixo o trailer oficial do filme:
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