Resenhas | Coringa

Coringa: uma discussão sobre empatia muito além dos quadrinhos (resenha)

Publicado em: maio 07, 2022 | Por: Meu Retiro

Filme: Coringa

Gênero: Drama / Policial

Produção: Todd Phillips

Direção: Todd Phillips

Sumário

“Há uma perda de empatia no mundo que todos nós sentimos hoje em dia… Todo o resto foi construído em cima disso. E se você cresce em um mundo sem empatia? E se nossa Gotham fosse um lugar frio e escuro cheio de pessoas que realmente não dão a mínima uma para a outra? É daí que vem esse vilão.”

Essa declaração que registramos acima, foi dada pelo diretor Todd Phillips em uma sessão de perguntas e respostas, quando questionado qual teria sido a inspiração para sua versão do personagem Coringa, no filme de mesmo nome lançado em 2019.

O polêmico personagem do longa levantou muitas discussões acerca das reações que causava nos espectadores, na época do lançamento do filme nos cinemas. Estaria o papel de vilão sendo glorificado e transformado em herói? Deveríamos ter compaixão por ele? Mas ele não é violento demais?

Um personagem cheio de camadas, muito mais verossímil do que as pessoas gostariam ou estão acostumadas a ver, coloca o público para pensar sobre questões de saúde mental, bullying, empatia, traumas, compaixão e muito mais.

Coringa

Créditos: Divulgação | Fonte: Promo

Qual a história de “Coringa”?

O Coringa você conhece, é um personagem pop icônico. Ele ainda é aquele palhaço meio maluco, inimigo do Batman, que aterrorizava a cidade de Gotham City. Porém, se o que você procura é um ‘filme de herói’ padrão, não é isso que irá encontrar aqui neste filme. 

A abordagem utilizada em “Coringa” joga doses de realidade no personagem, ressignificando sua existência e sua origem, afastando-o de muito do que já foi apresentado nos quadrinhos ou outros filmes/animações do seu universo.

O filme dirigido por Todd Phillips é basicamente sobre Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um homem solitário carregado de traumas e distúrbios psicológicos, que vai de encontro à sua libertação, mesmo que ela seja traduzida em caos e violência.

A narrativa conta que Arthur é um comediante em busca de uma carreira de sucesso, mas trabalha como palhaço em Gotham, e vive num apartamento minúsculo com a mãe idosa. 

Sufocado em uma cidade que fica cada vez mais violenta, e por uma sociedade que ignora suas vontades e necessidades, o diminuindo cada vez mais, Arthur resolve reagir criando um personagem chamado Coringa.

O palhaço, através da violência, se vinga das dores e mazelas que o mundo e a sociedade o afligiram, e da posição de suposto vilão, se torna referência popular no embate contra o sistema opressor.

A contextualização dos motivos que levaram Arthur a se transformar em Coringa, é o grande diferencial desta obra das demais já feitas sobre o personagem, pois o humaniza e o torna elegível a outros sentimentos além da repulsa. E é aí que nossa discussão começa.

Coringa

Créditos: Divulgação | Fonte: Promo

E esse “novo Coringa”, funciona?

Funciona. “Coringa” é um filme que sai do lugar-comum, trabalha calçado em uma constante sensação de desconforto do público, e dá ao personagem dos quadrinhos uma abordagem desconcertantemente adulta e humana.

Coringa, o personagem, não é um vilão somente ‘porque é mal’. Há toda uma motivação e explicação psicológica sobre como as coisas chegaram ao ponto d’ele tornar-se quem se tornou.

Coringa vira vilão, pois foi atacado pela sociedade primeiro. Sua vilania é quase baseada na ‘legitima defesa’, por isso torna-se herói protagonista de muitos, ao invés de simples antagonista.

E mais, a Gotham apresentada no filme pode ser comparada com qualquer grande cidade urbana do mundo – pode ser a sua!; e Arthur pode ser aquele seu vizinho mais retraído, ou  aquele seu colega de trabalho que demonstra inadequação, que por tantas vezes você mesmo pode ter faltado com um olhar mais amoroso, ou uma recepção mais acolhedora.

Essa possibilidade do ‘poderia ser real’, é o que nos leva a uma posição de empatia perante o personagem, de nos fazer compreender – o que não quer dizer concordar com – as motivações que o levaram a tornar-se quem se tornou e fazer tudo o que fez.

A empatia é algo crucial para nossos relacionamentos e na vida. A capacidade de ver as coisas pela perspectiva do outro faz com que tenhamos outro tipo de relação com as pessoas e as coisas, além de ser ingrediente essencial para uma boa saúde mental e emocional.

Quem sente pelo outro, tem melhor consciência sobre as consequências de suas ações e decisões, o que nos coloca em uma posição de maior cautela e compaixão na hora de tomar qualquer atitude ou julgamento.

Mas devemos ser empáticos com todas as pessoas? Mesmo com quem é ruim? Devemos ser compassivos com quem aparentemente não tem compaixão? Nossa sociedade real é tão cruel quanto a do filme? 

Esses questionamentos, somados ao incômodo citado aqui anteriormente, fazem de “Coringa” uma experiência que vai além dos 122 minutos de tela.

Coringa

Créditos: Divulgação | Fonte: Promo

Sentimentos de pena, repulsa, medo, e até mesmo de vingança, se misturam e criam uma empatia do espectador com o personagem que é tão humano quanto qualquer um de nós, e talvez por isso digno dessa identificação.

Mas um vilão não deveria ser apenas, e tão somente, ruim? Será que todos nós não somos um pouco vítimas e algozes uns dos outros? Quem é o verdadeiro vilão afinal? Existe um?

E tome-lhe mais questionamentos, estes que também nos servem para desconstruirmos ideias pré-moldadas, e entendermos a nossa complexidade enquanto humanos. 

Matéria-prima pra muita discussão, “Coringa” é um filme pesado, denso, desconfortante, mas absolutamente necessário. Um exercício imenso de autoconhecimento.

Apesar de ser vendido como a história do surgimento de um supervilão, é uma história que poderia ser qualquer um que já tenha sido negligenciado pela vida, sem encontrar a empatia e o acolhimento necessário em sua jornada.

Para não termos novos vilões, só a cabe a nós melhorarmos enquanto sociedade.

Onde assistir “Coringa”?

Coringa” está disponível nas plataformas online do TeleCine Play, Globo Play e Net Now. Para locação, o filme também está disponível via Google Play e Amazon Prime Vídeo.

Confira abaixo o trailer oficial do filme:

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