Filme: Meu Pai
Gênero: Drama
Produção: Simon Friend, Christophe Spadone
Direção: Florian Zeller
Sumário
Depois que fiz constelação familiar, minha vida nunca mais foi a mesma. Perceber o meu lugar no universo e na minha família foi muito importante para o meu autoconhecimento e para encerrar ciclos viciosos que vinham há décadas em minha família. Se você quer saber um pouco mais sobre o poder que a sua família e seus ancestrais têm sobre você, te convido a embarcar na nossa resenha de autoconhecimento semanal.
O filme Meu Pai, conta a história de Anthony, que tem 81 anos de idade. Ele mora sozinho em seu apartamento em Londres, e recusa todos os cuidadores que sua filha, Anne, tenta impor a ele. Mas isso se torna uma necessidade maior quando ela resolve se mudar para Paris com um homem que conheceu há pouco, e não poderá estar com o pai todo dia. Fatos estranhos começam a acontecer: um desconhecido diz que este é o seu apartamento. Anne se contradiz, e nada mais faz sentido na cabeça de Anthony. Estaria ele enlouquecendo, ou seria um plano de sua filha para o tirar de casa?
Já imaginou acordar um dia e não saber quem são as pessoas próximas a você? Ou os dias e momentos estarem todos embaralhados na sua cabeça e você não saber se aconteceu algo ontem ou há 10 anos?
O filme Meu Pai vai nos levar para a esfera do Alzheimer pelo olhar de Anthony (Anthony Hopkins). Esse não é o primeiro filme com essa temática, mas é interessante ver o diretor trazer esse olhar e permitir vivermos junto com o personagem toda aquela confusão. Confesso que fui às lágrimas em vários momentos por saber que essa é uma condição que estamos sujeitos a passar, mas também por tudo que pode acontecer a alguém que é parte essencial da nossa árvore genealógica, o pai.
Quando fui assistir Meu Pai no cinema, antes do Oscar 2021, confesso que não estava esperando muito por essa obra, mas me surpreendi, do mesmo modo que me surpreendi com a constelação familiar. Depois que fiz uma sessão de constelação, me permiti uma aproximação maior com minha família, com minha mãe, pai e irmãos.
A minha vida familiar era muito parecida com a mente de Anthony, eu nem sabia qual era a minha posição como filho e irmão, não conhecia a história da minha família e nem as minhas raízes e origens. – Como conhecer a si mesmo, se não conhece a sua história? – A constelação familiar veio como um divisor de águas para minha vida, me fazendo enxergar o todo através de outra perspectiva.
Percebi como minha vida funcionava, do mesmo jeito que um espectador assiste a uma peça de teatro, vi todos os padrões repetitivos da minha família em mim. No filme, cada dia o cenário mudava, mas a narrativa permanecia a mesma, assim era a minha vida. Comecei a procurar onde estavam as falhas e foram várias que vi, olhar para si é duro, é como se você levasse um soco no estômago.
A primeira coisa que fiz foi me libertar através do amor. Desde minha adolescência não falava para minha mãe, pai ou irmãos que os amava, tinha criado uma barreira por um motivo familiar que percebi já adulto através de terapia, muito essencial, diga-se de passagem.
Todas as vezes que ia visitar minha mãe, falava para mim mesmo que iria dizer “eu te amo”, mas nunca fazia. Depois da constelação familiar, essa seria a primeira coisa que iria fazer, a primeira pessoa que escolhi para iniciar essa transformação também foi ela e percebo hoje como foi muito transformador ter começado por minha mãe. Mas vou contar a experiência que tive com meu pai.
Naquela mesma semana que tinha falado para minha mãe que a amava, liguei para o meu pai, e além de dizer que o amava, disse que ele era o pai que escolhi ter, que ele era incrível e que não existiria outro pai melhor do que ele nesse mundo, que reconhecia tudo o que ele tinha feito por mim; me criar e educar.
Naquele mesmo mês, meu pai quase partiu desse plano, ele teve duas paradas cardíacas. Minha mãe faleceu naquele mesmo ano e foi o ano mais incrível que tive ao seu lado, reconhecendo que ela estava dando o seu melhor em todos os aspectos.
O filme Meu Pai fala exatamente dessa intimidade e relacionamento que precisamos criar com nossos pais. Pode parecer uma coisa simples de se fazer, mas confesso que precisa de coragem para deixar o ego de lado e permitir-se que o coração fale mais alto. Se você é de uma família onde o amor é soberano, preserve isso como alguém que cuida de uma planta.
Existe uma cena em que Anne (Olivia Colman) está lavando uma xícara, por um descuido, ela a deixa cair que se quebra inteira. Poderíamos considerar nossa vida familiar como essa xícara que precisa de cuidado e atenção a todo instante, pois a qualquer momento as pessoas que amamos podem não estar mais ali.
Algumas famílias podem ter cicatrizes profundas, se você consegue as enxergar, o primeiro passo já está bem aí, na sua frente. No meu caso, existiam dois caminhos que podia escolher: um deles era observar e ver a vida passar; e o outro era deixar o ego de lado e me permitir amar.
Quando nos deixamos amar, vivemos pleno.
Você pode falar que isso não daria certo na sua vida, que sua família tem um comportamento diferente, mas não há nada que seja mais forte que o amor, é ele que muda qualquer situação. Se a recepção não for aquela esperada, lembre-se que as pessoas estão dando o seu melhor, aquele é o melhor que ela tem a oferecer, então continue oferecendo o seu melhor também.
O filme Meu Pai ganhou o Oscar 2021 de Melhor Ator e Melhor Roteiro Adaptado, está disponível no Youtube para aluguel e compra e também nos cinemas. Em breve, o filme estará disponível nas plataformas de streamings. Se você ainda não assistiu Meu Pai, esse filme vai mudar a sua forma de enxergar a sua relação familiar.
“Meu Pai” é um filme que retrata um pouco de todos nós.
Bom filme e até a nossa próxima resenha!
Comentários