Sumário
“Uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas. Nenhum de nós vem ao mundo totalmente formado. Não saberíamos como pensar, andar, falar ou nos comportar como seres humanos, a menos que o aprendêssemos com outros seres humanos. Precisamos de outros seres humanos para sermos humanos.” – Desmond Tutu
Você já ouviu falar em Filosofia Ubuntu? Tudo bem se ainda não conhece, este artigo aqui foi produzido justamente para te apresentar esta corrente filosófica, e te ajudar a identificar aspectos do Ubuntu que podem ser edificantes em nossas respectivas jornadas.
Se você curte assuntos como humanismo e cultura africana, vai se identificar bastante com esse conteúdo.
Vamos lá?
O que é a Filosofia Ubuntu?
A Filosofia Ubuntu é uma perspectiva africana sobre o humanismo, mais especificamente originária das culturas dos povos Bantus na África Subsaariana.
O termo “Ubuntu” significa “eu sou, porque você é” ou “eu sou, porque nós somos”. Na verdade, a palavra Ubuntu é apenas parte da frase zulu “Umuntu ngumuntu ngabantu“, que significa literalmente que “uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas”.
A ideia da Filosofia Ubuntu é o conceito de humanidade comum, sendo uma unidade: humanidade, você e eu sendo um só. Praticamente uma oposição ao pensamento individualista de René Descartes, do famoso ditado, “Penso, logo existo”.
Ela enfatiza a interconexão e a interdependência de todos os seres humanos, promovendo a ideia de que a identidade individual e a realização pessoal estão intrinsecamente ligadas ao bem-estar da comunidade e à forma como nos relacionamos com os outros.
Por isso, a Filosofia Ubuntu busca promover valores como empatia, compaixão, solidariedade e respeito mútuo. Ela destaca a importância de tratar os outros com dignidade e cuidado, reconhecendo que nossas ações têm impacto não apenas em nós mesmos, mas também na comunidade à qual pertencemos.
O principal nome moderno da Filosofia Ubuntu é o Arcebispo Desmond Tutu (1931-2021), ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1984, e dono da citação que abre esse artigo.
Em sua obra, “O Livro do Perdão”, ele descreve uma pessoa que segue o Ubuntu como alguém “aberto e disponível para os outros, afirma os outros (…) e tem uma autoconfiança adequada“.
No fim, o Ubuntu também se conecta com ideias similares de outras tradições filosóficas, como o humanismo clássico e a ética do cuidado.
E o que podemos aprender com o Ubuntu?
Os princípios da Filosofia Ubuntu são totalmente aplicáveis em nosso dia-a-dia, em todas as nossas esferas de convívio, e principalmente em nossa visão de mundo.
Podemos começar falando que o Ubuntu pode servir como um contrapeso ao individualismo desenfreado que é tão difundido no mundo contemporâneo ocidental.
Com ele mudamos aquele pensamento egoísta sobre “o que pode ser bom para mim”, e compreendemos que, “o que é bom para mim, é o que é bom para o outro também”.
A ideia de coletivo pregada em tantas comunidades, grupos heterogêneos, e até mesmo no mundo corporativo, é o ensinamento básico do Ubuntu. Ninguém é uma ilha, somos arquipélago, e todos nós devemos fazer escolhas para o bem maior.
Através da coletividade do Ubuntu conseguimos preencher lacunas nas relações interpessoais, e entre nós e o mundo (animais, natureza, etc), sempre privilegiando a cura e o bom objetivo em comum.
A resolução de conflitos, por exemplo, é muito mais fácil através do Ubuntu, pois ele acredita que os laços comuns dentro de um grupo, são mais importantes do que quaisquer discussões e divisões individuais dentro dele.
Um exemplo prático disso foi o uso do conceito do Ubuntu por parte do supracitado Desmond Tutu, quando o mesmo liderou a Comissão da Verdade e Reconciliação da África do Sul, a qual ajudou aquela nação a lidar com sua história de apartheid.
Sentimentos e atitudes como a compaixão, a empatia, ou mesmo o altruísmo, são privilegiadas e se manifestam mais com o Ubuntu. Nos sentimos encorajados a servir mutualmente, alheios às diferenças.
Inclusive temos uma nova visão sobre o outro, dando uma nova perspectiva sobre essas diferenças, pois percebemos que mesmo que estas sejam grandes, compreendemos que elas não são intransponíveis, e isso não nos exclui de pertencer a um mesmo todo.
Tudo isso nos encoraja a pensar sobre como podemos servir e apoiar uns aos outros, e o que podemos fazer para ajudar o coletivo.
Para ilustrar um pouco mais a ideia de como o Ubuntu pode influenciar nossa visão de mundo e cotidiano, deixamos abaixo um vídeo do TEDxTalks do fotógrafo André François. Ele visitou 15 países ao longo de 10 anos e compartilha alguns aprendizados desta jornada:
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