Filme: AmarElo – É Tudo Pra Ontem
Gênero: Documentário
Produção: Netflix
Direção: Fred Ouro Preto
Sumário
Em 2019, o rapper e ativista Emicida lançou um álbum intitulado “AmarElo“, um disco de música brasileira conceitual e recheado de convidados de peso.
“Amarelo – É Tudo Pra Ontem” é o documentário que fala sobre as inspirações e conceitos deste álbum, além de revelar trechos da gravação de um show com repertório extraído do mesmo, registrado no Theatro Municipal de São Paulo.
Entre o material musical e de making of, o longa busca trazer uma reflexão apresentando alguns acontecimentos que marcam a história do pensamento, da arte e do posicionamento do negro na sociedade brasileira.
Essa reflexão começa a ser feita no filme falando sobre escravidão, lembrando que fomos o último país do continente americano a abolir este sistema. Passamos então pela história do trabalho em São Paulo, a imigração e o apagamento histórico da cultura e das figuras negras.
A coisa segue com a gentrificação da cidade com um viés social e racial, o desenvolvimento das periferias, o surgimento da cultura hip-hop nos anos 1980, e a popularização do rap na década seguinte.
Como resultado disso, chegamos a emancipação do negro através da arte, e, por fim, a ideia de reescrever essa jornada do negro brasileiro resgatando e contando novas histórias.
Essa ideia de resgate e reescrita é apresentada inclusive na escolha do próprio Theatro Municipal de São Paulo como local para a gravação do show, já que segundo Emicida, apresentar-se ali simbolizava a ocupação da comunidade negra nos lugares que sempre lhes foram negados.
O prédio que também foi construído por negros – assim como tantos outros clássicos de SP – dialoga ainda com a proposta de inovação e resistência da obra artística.
Dialoga na inovação já que no mesmo local aconteceu a Semana de Arte Moderna de 1922, movimento que deu início ao modernismo e a busca por uma brasilidade na arte, uma produção com mais valores nacionais.
E na linha da resistência político-social, já que foram nas escadarias do Theatro Municipal que em 1978 surgiu o Movimento Negro Unificado (MNU).
Mesmo com essa preocupação com o conteúdo, a parte técnica não foi negligenciada em “AmarElo“.
A direção de Fred Ouro Preto e os excelentes recursos gráficos conduzem bem a obra, mesclando uma porção de linguagens a um texto simples, claro e didático. Ah, e claro, tudo com muita música.
O Que AmarElo Tem a Ver Com o Meu Retiro?
“AmarElo – É Tudo Pra Ontem” é dividido em três partes: Ato I – Plantar, Ato II – Regar e Ato III – Colher.
No filme essa divisão é explicada ao revelar que o Emicida possui uma horta em casa, e que aprendeu a cultiva-la observando sua mãe fazendo a mesma atividade.
A importância dela para o trabalho fica clara na frase “A horta foi uma faculdadezinha que eu fiz enquanto fazia o disco”, dita pelo protagonista em certo ponto do documentário.
Emicida ainda cita que ler os escritos de Nelson Mandela o fizeram mudar como ser humano, escritos esses que foram produzidos na época em que o ex-líder da África do Sul estava preso e relacionava o plantar, cultivar e colher, com o processo da própria vida.
E é esse processo que trazemos para a reflexão.
O que você está plantando hoje? Quais são as atitudes edificantes que está tendo consigo mesmo e com o próximo?
Para um bom plantio é preciso um solo fértil, bem nutrido de boas coisas. O que você vem consumindo em sua mente, corpo e espírito, são coisas boas?
Cada decisão que tomamos é uma semente que plantamos. Você já pensou qual será o resultado disso futuramente?
No caso do filme, Emicida está plantando ações afirmativas, nutrindo o solo com história, com a intenção de valorizar a cultura e a identidade dos negros no Brasil.
E o ato de regar? Você vem cuidando de si? Tem se preocupado em cultivar seu amor-próprio? Tem alimentado seus sonhos, trabalhado por seus objetivos, aprendido com seus erros? Reduziu sua autocobrança excessiva?
Mantendo o solo úmido, bem assistido, cuidando de tudo que brota nele, é um caminho para garantir o bom desenvolvimento da planta, e por consequência a boa colheita.
Emicida rega sua luta racial e social, a música e a arte com informação, com boas referências e muita história.
E como será a colheita de cada um de nós? Ora, ela é o resultado dos dois passos anteriores.
Não se colhe algo diferente do que plantou, o resultado do que temos é referente às decisões que tomamos.
E no caso de Emicida?
“AmarElo“, álbum que origina o filme, ganhou o Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa”. Já o documentário “AmarElo – É Tudo Pra Ontem” foi indicado ao Emmy internacional e é um sucesso absoluto dentre as produções recentes da Netflix.
O filme está disponível na plataforma Netflix.
Confira o trailer oficial abaixo:
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