Filme: Na Natureza Selvagem
Gênero: Aventura, Drama, Biografia
Produção: Paramount Vantage
Direção: Sean Penn
Sumário
Há um prazer em bosques inexplorados;
Há uma beleza em praias solitárias;
Há uma sociedade, onde ninguém invade;
Perto do mar profundo, e da música em seu rugido:
Não que eu ame menos o homem, mas amo mais a Natureza…– Lord Byron
Quantas vezes você olhou em sua volta e não estava satisfeito com o que viu? Quantas vezes teve vontade de abandonar tudo e simplesmente sumir?
Ou mais, quantas vezes sentiu-se inadequado, com a necessidade de buscar algo que não se sabe o que é para enfim se sentir completo?
E o desejo de começar de novo, tudo do zero? Outro nome, outro lugar…
É de se imaginar que muitos que frequentam nossas páginas já tenham passado por esse tipo de sentimento ou pensamento, pois são questionamentos e ideias comuns a muitos de nós.
É deste mesmo sentimento que nasce a jornada de Christopher McCandless, personagem real que é o protagonista de “Na Natureza Selvagem”.
Qual a História de “Na Natureza Selvagem”?
A história de Christopher foi contada originalmente no livro de mesmo nome, “Into the Wild” no original, escrito pelo jornalista e alpinista estadunidense Jon Krakauer.
O livro de 1996 é uma expansão de um artigo anterior do próprio Krakauer, chamado “Death Of An Innocent” (Morte de um Inocente), publicado em 1993, que contava a história real de um rapaz que após sua formatura na Emory University em 1990, largou tudo o que tinha para partir em uma jornada pessoal.
Para esta jornada, Christopher rompe completamente a comunicação com sua família, doa sua poupança, queima seus documentos e cartões de crédito, abandona sua identidade e sai em uma viagem solitária pelos EUA em busca de uma vida simples e próxima à natureza.
Assumindo uma nova identidade, Chritopher vira Alex “SuperTramp”, algo como “SuperVagabundo”, e influenciado por obras e ideias de autores como Thoreau, Jack London e Liev Tolstói, ele inicia uma viagem interior e exterior.
A parte selvagem do Alasca é o ponto de chegada de sua viagem que dura dois anos, entre caronas, pequeno bicos aqui e ali, e muitas anotações, estas que foram essenciais para que o autor reconstruísse a história e o pensamento de Alex durante este período em que ‘sumiu’ para todos os que o conheciam.
Durante essa viagem, SuperTramp cruza com diferentes pessoas que lhe dão caronas e trabalhos, gente com quem ele se envolve, cria laços mas jamais permanece por muito tempo, sempre optando seguir em sua jornada.
Nessas relações, a troca é profunda, com Alex tocando a vida das pessoas com sua postura e ideias, bem como aprendendo muito ao cruzar figuras tão diferentes do que estava acostumado em seu meio social anterior.
Ao chegar ao Alasca, Alex encontra um ônibus abandonado e nele resolve estabelecer moradia. A partir deste ponto, ele vive algo em torno de 100 dias exatamente como sonhou e o nome da obra denuncia, ‘na natureza selvagem’.
Não é spoiler para ninguém, pois é uma informação pública e notória: McCandless/SuperTramp morre neste período no Alasca, bem na época onde se acredita que ele tenha encerrado sua jornada de autoconhecimento, e estava pronto para voltar à sociedade.
Apesar de seus inúmeros cuidados, ele sucumbe ao comer uma semente que continha um mofo específico, o qual ele imaginava ser seguro para o consumo. Com a imunidade baixa, não resiste e morre preso na região do ônibus que o acolheu, sem nunca retornar à civilização.
Sobre o Filme
O filme de 2007 tem roteiro e direção de Sean Penn, e sua história é totalmente adaptada do livro, mudando pouca coisa na ordem da narrativa.
Na parte visual, “Na Natureza Selvagem” é um show de imagens, mostrando as belezas da natureza americana em tomadas incríveis de montanhas, florestas, canyons, rios, céus e mares, buscando sempre mostrar a magnitude dos ambientes naturais por onde o personagem passou.
As mais de duas horas de filme não soam massantes, pelo contrário. São muito bem editadas as três linhas temporais que o filme mistura: SuperTramp – interpretado pelo ator Emile Hirsch- em seus dias no Alasca; durante os dois anos de peregrinação e em flashbacks de seu passado familiar.
Outro ponto importantíssimo do filme é sua trilha sonora, formada só por canções originais compostas e interpretadas por Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam.
O disco da trilha foi um sucesso em vendas, e as músicas são um elemento essencial para a criação do clima do longa, inclusive com as músicas conversando muito com o que acontece na narrativa em tela.
Uma de suas faixas, “Guaranteed” ganhou o Globo de Ouro como melhor canção original naquele ano.
Vale citar ainda que o filme foi indicado para dois prêmios Oscar, sendo um deles para Melhor Ator Coadjuvante, para Hal Holbrook, mas não levou nenhum deles pra casa.
Autoconhecimento Na Natureza Selvagem
Conforme falamos no começo do texto, é muito possível se identificar com a história de Christopher McCandless.
O desejo de se afastar do que nos parece artificial, a vontade de nos compreender melhor, de criar uma identidade, são sentimentos comuns e que podem atingir as pessoas em diversos momentos da vida.
Como falamos aqui em nosso portal, a busca interior começa em algum lugar, e todos esses questionamentos, e desejos, são gatilhos para uma busca de despertar da consciência.
A jornada de Christopher revela essa necessidade. É uma busca por respostas não apenas sobre si, mas também sobre a vida, sobre quem somos e qual nossa real função aqui.
Influenciado pelos autores naturalistas supracitados aqui no texto, e referenciados no filme, Christopher buscou esse despertar de consciência em meio a natureza, pois percebia não caber mais na persona que vinha sendo em meio a uma sociedade em que não se identificava.
Isso nos leva inclusive a uma provocação interessante: estava ele isolado Na Natureza Selvagem buscando respostas sobre si, longe da sociedade da qual ele reprovava, ou estava ele isolado se sentindo inadequado em meio a uma porção de dúvidas sobre quem ele era?
De todo modo, Christopher buscava por algo maior, para ele e dentro dele.
Esse algo maior é representado também pela natureza. A natureza selvagem que ele tanto almeja provou ser incontrolável e imprevisível, e foi justamente ela que o levou à consciência, e depois para a morte.
Mesmo este trágico final não tira o brilho da mensagem da jornada de SuperTramp.
Não sabemos quais respostas ele encontrou, mas compartilhamos de muitas das questões sobre as quais ele nos leva a pensar.
E para encerrar, vale deixar mais uma provocação:
Poucos dias antes de morrer, SuperTramp deixou registrada a frase:
“A felicidade só é real quando compartilhada”.
Estaria ele então convencido que pra ser feliz era preciso voltar à civilização, para então compartilhar com seus iguais?
Ou será que sua interação com as pessoas e a natureza que cruzou pelo caminho, e mesmo suas anotações, já eram uma forma de compartilhar o quanto ele estava realmente feliz naquele processo todo?
Mais uma pra gente pensar.
“Na Natureza Selvagem” está atualmente disponível nas plataformas TeleCine Play e NOW.
Assista ao trailer do filme abaixo:
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