As Aventuras de Pi: o equilíbrio é essencial para sobrevivermos (resenha)

Assim como o Meu Retiro faz uma curadoria amorosa sobre os melhores retiros e terapias, também fazemos curadoria para indicar alguns bons títulos para você assistir no conforto do seu lar aqui em nossa área de resenhas.

É claro, cinema é um momento de diversão e entretenimento, mais que bom quando ele consegue também trazer conteúdo edificante para nossos dias. “As Aventuras De Pi”, nosso filme escolhido de hoje, é este tipo de obra, que dialoga diretamente com ideias que defendemos aqui no portal, como a autodescoberta, a espiritualidade e o despertar da consciência.

Baseado no romance de 2001 de mesmo nome, escrito por Yann Martel – que por sua vez foi influenciado pelo romance brasileiro “Max e os felinos“ (1981) de Moacyr Scliar –  o longa lançado nos cinemas em 2012 conta a jornada do personagem Piscine Molitor “Pi” Patel.

Sua história começa quando a família de Pi, que é dona de um zoológico localizado em Pondicherry, na Índia, decide se mudar para o Canadá, viajando a bordo de um cargueiro e levando consigo os animais. O navio naufraga e somente ele, Pi, filho mais novo da família, consegue sobreviver em um barco salva-vidas.

Perdido em meio ao oceano Pacífico, ele precisa sobreviver até encontrar resgate, dividindo o pouco espaço disponível com uma zebra, uma hiena, um orangotango e Richard Parker, um tigre-de-bengala que o acompanha por toda a história.

Toda essa narrativa é contada por um Pi Patel mais velho, que vai relatando a sua história para um escritor com interesse em escrever um livro sobre sua vida.

Com essas alegorias, o filme, na verdade, é carregado de significados e mensagens, tratando de temas como fé, destino e superação, colocando quem o assiste para pensar um tanto sobre nossas escolhas e a forma como encaramos as adversidades.

Com um show de imagens, o filme dirigido por Ang Lee (de “O Tigre e o Dragão”, “O Segredo De Brokeback Mountain”) é de um deleite visual tão impactante quanto seu conteúdo, equilibrando bem o material CGI/3D com as atuações primorosas.

Atenção: a partir deste ponto, nosso artigo contém spoilers. Se você ainda não assistiu ao filme ainda, faça-o já, depois retorne para mais informações.

Você encontra o filme disponível para assistir aqui, através do Disney+.

E o livro está a venda aqui, via Amazon.

Assista abaixo ao trailer de lançamento:

Continuando…

Quem já assistiu ao filme, sabe que o uso de animais na narrativa é uma escolha de Pi para substituir os personagens reais do acontecido – no caso, familiares e outros tripulantes do navio – a fim de deixar a história menos perturbadora e mais fascinante.

A versão contada por ele, com os animais, é convincente e notável. Quando ele revela que os animais são apenas alegorias, pergunta ao escritor qual das duas versões ele prefere. Este então escolhe a dos animais. Com isso entendemos que a forma como enxergamos a nossa realidade pode mudar completamente a nossa vida. E que atenuar a visão sobre nossa própria história, pode nos facilitar a visão de um futuro.

A relação de Pi com a natureza também levanta questões interessantes durante a história. O personagem está sempre cercado de uma natureza harmônica – céu e mar são visualmente praticamente a mesma coisa, e é refém das condições naturais, seja o caos da tempestade ou a calmaria da noite.

Além do meio, ele tem que aprender a lidar com a (sua) natureza selvagem durante toda a jornada, no caso, representada pelo tigre-de-bengala.

O despertar da espiritualidade também pauta o longa, mostrando como o jovem Pi foi criado entre a racionalidade e a filosofia ocidental utilizada pelo pai, e a espiritualidade oriental de sua mãe. Durante sua jornada, perante as dificuldades, o personagem encontra força e conforto ao desenvolver sua própria espiritualidade.

Ao mesmo tempo, ele não abandona a inteligência emocional e a racionalidade, mostrando como o nosso equilíbrio é essencial para a sobrevivência.

Por fim, o filme mostra como certas adversidades, muitas das quais são recebidas com gratidão pelo personagem são, na verdade, alicerces e motivação para nos manter seguindo em frente. Isso pode ser visto na relação entre Pi e o tigre Richard Parker, especificamente. Em um primeiro momento, a presença do animal na embarcação é uma ameaça.

Com o tempo, Pi aprende a domá-lo e então luta para mantê-lo vivo, entendendo que o animal precisa dele para sobreviver, fazendo disso, mais uma missão e motivação para também manter-se vivo.

Crédito: 20th Century Fox | Fonte: 20th Century Fox

“As Aventuras De Pi” é, além de um show visual, uma obra de arte que discute a vida, a fé e nossa capacidade de lidar com nossos traumas de forma positiva.

O filme recebeu onze indicações ao Oscar e levou quatro estatuetas para casa: melhor diretor, melhor trilha sonora original, melhor fotografia e melhores efeitos visuais.

Dê uma pausa em sua vida, e dê um play nessa grande obra.