Filme: Quanto Tempo o Tempo Tem?
Gênero: Documentário
Produção: Infinitto
Direção: Adriana L. Dutra
Sumário
Você já teve aquela impressão que cada ano passa mais rápido? Que temos cada vez menos tempo para fazer tudo o que queremos e precisamos?
Tem mais, você já parou para pensar sobre como você administra seu tempo? Ou ainda, já pensou sobre o que é tempo, afinal?
Estas e tantas outras questões estão sob o guarda-chuva do documentário cujo título também é uma pergunta:
“Quanto Tempo o Tempo Tem?”
Compilando depoimento e divagações de cientistas, filósofos, e figuras pop conhecidas do público, como a Monja Coen e o cineasta Arnaldo Jabor, a diretora Adriana L. Dutra tenta responder à pergunta título e mais uma porção delas.
A linha de raciocínio do filme parte desde a abordagem do tempo na filosofia de Santo Agostinho, até a nova velocidade das coisas, passando pelas normas criadas ao tempo cotidiano durante a revolução industrial, e pelas possibilidades de uma vida eterna através da biotecnologia.
“Tempo é tudo o que somos”
Renato Russo, compositor da Legião Urbana, escreveu esta frase na música “La Nuova Gioventú” de 1993, mas ela poderia muito bem estar em algum ponto da película, pois esta é afinal uma das conclusões primárias das diversas reflexões do filme.
É pontuado que o tempo é contado somente pelos seres vivos, e o que dá valor ao tempo é nossa consciência da morte.
Assim sendo, somos o tempo que temos. Tempo é tudo que somos, e isso reflete em sua relação com o todo.
A base do capitalismo, por exemplo, pode ser traduzida como o aluguel do seu tempo. Você recebe capital em troca de “X” do seu tempo, dedicando-se a fazer algo para aquele que irá te pagar isso.
Esse caminho de pensamento faz com que a gente chegue a conclusão de que o tempo é a moeda mais valiosa que existe.
Alguns atribuem a Lutero, outros usam Benjamin Franklin como fonte primária, o fato é que a máxima “tempo é dinheiro” soa absolutamente real quando vemos as coisas por esse viés.
Mas, quanto vale nosso tempo? Dá pra precificar o que somos, afinal? Fica essa questão no ar.
Em seus 76 minutos, poucas são as respostas entregues pelo filme, mas muitas são as vias para reflexão.
A pluralidade dos convidados abre diferentes caminhos e oferece novas pontes para você pensar e se questionar sobre a sua relação com o tempo. Essa oferta de terreno para a reflexão é o grande valor do longa.
Outro ponto muito importante levantado no filme e que vale ser citado aqui, é sobre o valor do momento presente perante o tempo.
Os entrevistados te lembram algo tão simples que por vezes nos passa batido: somente o presente existe, afinal o passado já aconteceu, não existe mais, e o futuro é uma projeção que ainda não ocorreu.
No final das contas, só o presente não desaparece, o exato e perfeito instante que está acontecendo agora.
Essa reflexão nos remete ao conceito do mindfulness, da importância de vivermos o presente com atenção plena, algo que falamos muito em nosso conteúdo aqui na revista Meu Retiro.
Se o presente é tudo o que temos, como não nos dedicarmos totalmente a ele? Como não colocarmos toda nossa atenção no que está acontecendo AGORA conosco?
Essa dispersão de atenção também surge no filme ao sermos lembrados da quantidade de telas colocadas em frente aos nossos olhos e da velocidade de informação transmitida através delas.
TV, smartfone, computador, cinema, tablet… estamos fragmentados em diversas telas diferentes, e pouco apreciamos o mundo fora de suas quatro linhas.
Perdemos a cada dia a capacidade de imersão, da possibilidade de nos aprofundarmos. Nos falta foco perante o volume e a velocidade com que as coisas nos são ofertadas.
E tudo é rápido e rasteiro. Poucos caracteres, vídeos curtos, informação instantânea e fugaz.
Isso nos leva a pensar se o tempo está realmente passando mais rápido, ou se o volume de informação para consumo é que aumentou ao ponto de não darmos conta de absorvermos tudo.
E isso nos dá mais uma questão: precisamos mesmo dar conta de tudo?
Viver é acumular conteúdo através de telas?
Na própria plataforma onde o filme está hospedado, há a opção de assisti-lo com conteúdo 1.5x mais rápido. Ao assistir algo de forma acelerada, não parece que estamos trocando imersão por velocidade pura e simples?
Toda essa rapidez atrapalha o nosso aprendizado. A forma como consumimos as coisas atualmente, faz com que a maioria das pessoas, saiba quase nada de muita coisa.
Sem aprender efetivamente, sem conseguir aproveitar todo o ofertado, como ser feliz dentro desta revolução tecnológica que avançou tanto na última década? Me perdoem mais essa interrogação.
Ser feliz na revolução tecnológica dos últimos 10 anos é uma enorme questão, já que essa relação ‘tempo x atenção‘ é uma das grandes causadoras da ansiedade moderna.
Muita gente já percebeu isso e está em busca de alternativas para uma melhor relação com o tempo.
Nesse processo, ficam cada vez mais populares iniciativas como o slow life, os retiros, principalmente aqueles baseados no silêncio, e até mesmo atitudes mais simples, como aquela pausa no meio da rotina, ou uma desconexão das redes sociais e ambientes online.
O que todo mundo quer é mais tempo para fazermos as coisas que nos importam. E, se somos tempo, um dos caminhos para isso é a longevidade.
É por esse viés que o filme encerra sua busca por respostas, oferecendo mais interrogações, mas olhando para frente, com falas de Max More, sobre Transumanismo – movimento que defende o aperfeiçoamento do ser humano a partir da tecnologia.
Nossa existência já vem sendo prolongada há décadas. Nossa expectativa subiu conforme nossa medicina e tecnologia avançou.
Nos últimos anos, a expectativa de vida vem aumentando em média 3 meses a cada ano, e a tendência é aumentar com o uso de novas biotecnologias.
A corrida contra o tempo segue a todo vapor, e as questões sobre como devemos nos relacionar com ele, como pode ver neste artigo, só aumentam.
A resposta para a pergunta título, provavelmente é uma só: uma vida toda.
O filme está disponível na plataforma do Netflix.
Confira o trailer abaixo, via YouTube:
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